Pesquisar este blog

domingo, 31 de janeiro de 2010

O massacre mórmon em Monte Meadows

Ou Como a religião torna os homens tão estúpidos.

Massacre mórmon volta à tona 146 anos depois
Igreja Mórmon é pressionada por parentes de vítimas da chacina de Monte Meadows a pedir desculpas

Sally Denton*
The New York Times
Notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 1 de junho de 2003

SANTA FÉ, Novo México - Neste verão, quando as famílias perambularem por todos os Estados Unidos visitando locais históricos, existe um local - o Monte Meadows, no sudoeste de Utah - que não fará parte de muitos itinerários. O Monte Meadows, que fica a duas horas de carro de um dos destinos turísticos mais populares do Estado, o Parque Nacional Zion, é o local que o historiador Geoffrey Ward chamou de "o exemplo mais hediondo do custo humano cobrado pelo fanatismo religioso na história americana até o 11 de setembro".

E embora possa não ser um destino turístico importante, por um século e meio o massacre tem sido o foco de um debate acalorado entre os mórmons e a população de Utah. É uma discussão que atinge o cerne dos dogmas básicos do mormonismo. Isso, a mancha mais escura da história da religião, é uma realidade amarga e uma situação desafiadora para a moderna Igreja Mórmon, que luta para se livrar de sua história de extremismo.

Em 11 de setembro de 1857, em um monte no sudoeste de Utah, uma milícia da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ou mórmons, atacou um comboio de famílias de Arkansas a caminho da Califórnia. Após um cerco de cinco dias, a milícia convenceu as famílias a se entregarem sob a bandeira da trégua e a promessa de travessia segura. Então, na pior carnificina de pioneiros brancos contra outros pioneiros brancos de toda a história da colonização dos EUA, aproximadamente 140 homens, mulheres e crianças foram mortos. Só 17 crianças com menos de 8 anos - a idade da inocência pela crença mórmon - foram poupadas.

Após a matança, a igreja primeiro alegou que os responsáveis tinham sido os índios Paiute, mas, à medida que surgiram provas do envolvimento dos mórmons, a igreja pôs toda a culpa em John D. Lee, um membro da milícia e mórmon fanático que também era o filho adotado do profeta Brigham Young.

Após quase duas décadas, como parte de um acordo para a transformação em Estado, Lee foi fuzilado em 1877. A igreja tem consistentemente negado a responsabilidade - rotulando Lee de renegado -, mas muitos historiadores acreditam que os líderes mó+rmons, embora nunca tenham sido processados judicialmente, ordenaram o massacre.

Agora, passados 146 anos, os descendentes de Lee e os parentes das vítimas vêm pressionando a Igreja Mórmon por um pedido de desculpas. O movimento por algum reconhecimento oficial por parte da igreja começou no final da década de 80, quando um grupo de descendentes de Lee, entre eles um ex-secretário do Interior dos EUA, Stewart Udall, começou a trabalhar para limpar o nome de seu ancestral.

Em 1990, descendentes das vítimas e dos perpetradores começaram a insistir com a Igreja Mormon para admitir a responsabilidade pelo morticínio e para reconstruir um marco em ruínas levantado no local por soldados do Exército americano, em 1859.

O atual presidente da Igreja, Gordon B. Hinckley - ele próprio um profeta que diz receber revelações divinas - tomou um interesse pessoal pelo episódio e, em 1998, concordou em restaurar o marco, onde ao menos alguns dos corpos estavam enterrados. Mas mesmo essa concessão acabou criando uma polêmica quando, em agosto de 1999, uma escavadeira da empreiteira contratada pela igreja desenterrou acidentalmente os ossos de 29 vítimas.

Após um debate entre autoridades de Utah e líderes da igreja sobre leis estatuais que exigem que ossos desenterrados sejam examinados por legistas para determinar a causa da morte, a igreja mandou enterrar rapidamente os restos mortais sem um exame mais detalhado que poderia ter chamado a atenção para a brutalidade dos assassinos. Um mês depois, em 10 de setembro de 1999, quando descendentes dos autores e das vítimas se reuniram para inaugurar um monumento financiado pela igreja no qual esperavam que houvesse um serviço religioso "curador", ambos os lados ficaram desapontados pelos comentários de Hinckley.

Ele continuou a negar a responsabilidade da igreja, chegando a acrescentar uma exoneração de responsabilidade jurídica que muitos consideraram afrontosa. "Que aquilo que nós fizemos aqui nunca seja interpretado como uma admissão por parte da igreja de qualquer cumplicidade nas ocorrências daquele dia fatídico", disse. Muitos consideraram esse discurso uma tentativa de evitar processos judiciais.

Mas a recusa da igreja em desculpar-se é mais complicada. Numa época em que religiões no mundo inteiro estão reconhecendo e mostrando arrependimento pelos pecados do passado, o massacre deixou a Igreja Mórmon num dilema.

Católicos romanos se desculparam pelo seu silêncio durante o Holocausto, metodistas unidos, pelo massacre de índios americanos durante a Guerra Civil americana, batistas sulistas, pelo apoio à escravidão, e luteranos, pelos comentários anti-semitas feitos por Martin Luther King.
Mas, diferentemente dos líderes de outras religiões que se acreditam guiados pela mão de Deus, os profetas mórmons são considerados uma extensão de Deus.

O reconhecimento da cumplicidade por parte dos líderes da igreja poria em dúvida a questão da divindade de Brigham Young e a crença mórmon de que são o povo escolhido por Deus.

Acreditando estar fazendo trabalho de Deus livrando o mundo de "infiéis", os fanáticos mórmons evangélicos cometeram uma das maiores atrocidades civis em solo americano. Sem uma verdadeira tentativa de prestação de contas e reparação, a igreja não escapará da sombra desse crime horrível que paira sobre ela.

* Sally Denton é autora do livro American Massacre: The Tragedy at Mountain Meadows, September 1857 (Massacre americano: a tragédia no Monte Meadows, setembro de 1857)
.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O espiritismo quente do pastor-casamenteiro

O dom quixote do espiritismo ataca novamente. Agora ele volta suas lanças contra novos inimigos imaginários: os métodos da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB), os quais considera antigos e ineficazes, pois não conseguem ajuntar as multidões que ele consegue.

Sobraram espinafradas para a FEEB, para o presidente do conselho deliberativo e até para a família Peixinho.

Fico a imaginar os novos métodos a serem sugeridos com a explícita intenção de angariar adeptos, ou melhor, profitentes. Vejamos algumas sugestões baseadas nos textos e ações do proponente:

Casamentos espíritas. A FEEB se engalanaria todos os finais de semana para realizar casamentos espíritas, seja lá o que isso signifique, de seus profitentes mais aquinhoados. Já posso ver a riquíssima decoração com flores e detalhes requintados, um órgão tocando a melodia que serviria como ambiência para a entrada da noiva, que, certamente, estaria muito bem vestida em seu longo branco com grinaldas, e seria antecedida por pequenas garotas que levariam solícitas as alianças para o alta... ops, a mesa da coordenação. Do púlpito, o padr..., ops, o past..., ops, o médium-casamenteiro faria sua pregação moral em prol da união dos pombinhos reencarnacionistas.

Censura e mídia. Já que o proponente é chegado à censura daqueles que não rezam por seu catecismo, como o midiático caso do padre Jonas Abib, em maio de 2008, a FEEB estaria frequentemente entrando com ações judiciais contra padres, pastores evangélicos e até mesmo espíritas membros do antigo conselho da FEEB, que ousassem pensar e, pior dos mundos, divulgar suas ideias contrárias ao novo pensamento hegemônico feebiano. E, claro, tudo feito com grande suporte dos meios de comunicação locais, visando sempre a divulgação da FEEB e de seus novos membros do conselho... Saber-se-ia de antemão que nenhuma ação resultaria em vitória judicial efetiva, já que as leis federais proíbem a censura, mas alguma deliberação em instâncias inferiores seria conseguida, sempre amparada pelos amigos que se espalham nos órgãos tal e qual; mas o resultado maior seria alcançado: o espaço e o tempo dos veículos de comunicação.

Pastores, rebanhos e bispos. Os novos membros do conselho e da direção da FEEB seriam considerados pastores e assim seriam tratados. E se possível, através de ações no âmbito da justiça comum, passariam a ser titulados formalmente como bispos espíritas. E, claro, tudo feito sempre em nome da igualdade de oportunidade religiosa, com  muito amor, sorriso e alegria. Os palestrantes, esses sim, seriam os pastores, e os ouvintes, ou melhor, profitentes, seriam seu rebanho. Ao findar de cada pregação apostólica, os membros do rebanho formariam fila para poder beber a água bent..., ops, fluidificada.

Pronto. Eis alguns métodos revolucionários que poderão salvar o espiritismo baiano de sua frieza peixinha e inflá-lo de novos adeptos, pois, segundo essa nova e pós-moderna metodologia, o que importa é a quantidade. Afinal, para que servem mesmo a coerência e a lógica racional, a não ser para atrapalhar os desejos mais recônditos da alma humana? Pois como já dizia Al Pacino, em O advogado do diabo, "a vaidade é o meu pecado favorito".

Olha no que deu o espiritismo.

An Interview with Christopher Hitchens, Part II


Journalist and author Christopher Hitchens visited my hometown of Portland, Oregon last week, and I interviewed him at Jake's Grill downtown over glasses of Johnnie Walker Black Label. My old friend and sometimes traveling companion Sean LaFreniere joined us and contributed a few questions of his own. You can read Part I here.

MJT: The big story in 2010 will be Iran. We have this revolution there—I'm not afraid to call it that.

Hitchens: You're right, I think it is one.

MJT: We have Iran's terrorist proxies in Gaza and Lebanon. And we have the regime's nuclear weapons program.

Hitchens: Also, in each case, the Iranian Revolutionary Guard—the Pasdaran—is the controlling force.

MJT: Hezbollah is the Mediterranean branch of the Revolutionary Guards.

Hitchens: We have the same bunch overseas where they're not wanted, in Lebanon and even among the Palestinians, conducting assassination missions abroad, shooting down young Iranians in the streets of a major city, and controlling an illegal thermonuclear weapons program. We do have a target. All this has been accumulated under one heading.

MJT: Yes.

Hitchens: I thought that was worth pointing out. It's not "the regime" or "the theocracy." It's now very clear that the Revolutionary Guards have committed a coup in all but name—well, I name it, but it hasn't yet been named generally. They didn't rig an election. They didn't even hold one.

MJT: They never counted the votes. There's no "recount" to be done.

Hitchens: The seizure of power by a paramilitary gang that just so happens to be the guardian and the guarantor and the incubator of the internationally illegal weapons program. If that doesn't concentrate one's mind, I don't know what will.

MJT: If the Obama Administration calls you up and says, "Christopher, we need you to come in here, we need your advice." What would you tell them?

Hitchens: I would say, as I did with Saddam Hussein—albeit belatedly, I tried to avoid this conclusion—that any fight you're going to have eventually, have now. Don't wait until they're more equally matched. It doesn't make any sense at all.

The existence of theocratic regimes that have illegally acquired weapons of mass destruction, that are war with their own people, that are exporting their violence to neighboring countries, sending death squads as far away as Argentina to kill other people as well as dissident members of their own nationality—the existence of such regimes is incompatible with us. If there is going to be a confrontation, we should pick the time, not them.

We're saying, "Let's give them time to get ready. Then we'll be more justified in hitting them." That's honestly what they're saying. When we have total proof, when we can see them coming for us, we'll feel okay about resisting.

MJT: They don't think about it that way.

Hitchens: They don't know that's what they're saying, but it actually is.

MJT: They're crossing their fingers and hoping it never has to happen at all.

Hitchens: Unless an Obama Administration person can say to me, "No, the confrontation can be avoided, there isn't really a casus belli here," unless they could persuade me of that, I'd say that once we've decided this, the fight should be on our terms. We should not allow them to get stronger and acquire more of the sinews of warfare.

They'll say I'm asking for war, but I'll say no. I'm not. I'm recognizing that someone is looking for war. We should be firm enough to say "Alright." We didn't look for it. We've tried everything short of war for a long time. Everything. We went to the International Atomic Energy Authority and found them cheating everywhere. Their signature on the Nonproliferation Treaty is worthless. We have the names of members of the Iranian government who are wanted for sending assassins to Europe and Argentina. We know what they've been doing to subvert Lebanon, to make trouble in Iraq.

MJT: Let me take the Obama Administration's side. I'll be the Devil's Advocate.

Hitchens: Sure.

MJT: If we actually strike Iran, it is a near-certainty that they'll instigate violence in Lebanon, in Iraq, and in Israel. That's at a minimum. There will be violence in Iran, too, obviously, because we'll be attacking sites in Iran. It's a near certainty that there will be terrible violence in all of these countries. If we cross our fingers and hope for the best, there's a real possibility that there won't be much violence in any of these countries. Within a year or two, the Iranian government might not even exist.

It's a gamble no matter what we do, but it's actually possible that we can avoid war altogether. The administration isn't crazy for thinking we can muddle through this thing.

Hitchens: I know how to do that Devil's Advocate calculus, as well.

MJT: I don't even know that I'm playing Devil's Advocate. I don't know what we should do.

Hitchens: There are two clocks running in Persia. One is the emergence of a huge civil society movement—which, by the way, I think was partly created by the invasion of Iraq. The Shia authorities—in Iran, Montazeri, and in Iraq, Sistani—don't take the Velayat-e Faqih view of Khomeini. National minorities like the Kurds and Azeris are also very impatient with the regime.

MJT: Forty-nine percent of Iranians aren't Persians.

Hitchens: In the long run, the regime is doomed. The other clock that's running is that of the Iranian Revolutionary Guards, which is actually the counter-revolution. These are people who go out into the street and rape and blind and kill young Iranians. They control the nuclear clock, which is running faster. They hope that by acquiring the weapons of mass destruction they can insulate themselves from regime-change. At least this helps us to narrow the target a bit.

How many Iranian dissidents are really going to be nationalistically upset by an intervention that comes in and removes the Revolutionary Guards?

MJT: I don't think very many, but I could be wrong.

Hitchens: Would we have the nerve to say that was the objective, or would we simply say we're only talking about sites and don't care about Iranian freedom? We'd need to have a generous view of the situation, and we'd need to coordinate it with NATO.

The people who most want this to happen are the Sunni Arab governments.

MJT: All of them. The only Arab country that doesn't want it is Syria, but it isn't Sunni. It's an Alawite government.

Hitchens: If the Iranian Revolutionary Guards get the bomb, they won't use it on Israel. They're not so stupid. They certainly won't use it on us.

MJT: I agree.

Hitchens: But they'll use it to blackmail Bahrain first, then Qatar.

What's the point of being a superpower if we say to our allies there's nothing we can do about this, that they're on their own?

LaFreniere: Can I say something?

MJT: Sure.

LaFreniere: I lived for a while with some Iranian students in Copenhagen. We had some conversations about regime-change, how they felt about their government, how they felt about America. They aren't in favor of their government, but they have a deep sense of pride. They were partly able to overlook the hideousness of their regime, especially when it came to nuclear weapons. If Iran acquired them, the world would have to take Iranian opinion seriously. They really liked that idea. These weren't thuggish kids. They were nice students in Denmark. They were of two minds about this situation.

MJT: That was before last June.

LaFreniere: It was.

MJT: I don't know how much that matters.

Hitchens: Their enemy, the Iranian Revolutionary Guard, conducted a military coup in Iran last year. It is the author of all the atrocities against women, political prisoners, students, Kurds, and the like. It is identifiably the incubator of the nuclear program, so we can disaggregate things a little that way.

Second—although it's a sad thing—there is international law.

MJT: What does that even mean?

Hitchens: If Iran is found to have broken every single one of its agreements, the legal case exists. It may not be a casus belli, but it may be enough for a blockade.

Unfortunately, the votes of the people inside don't count. We know in Burma, as we knew in Iraq and South Africa, that the people are not with the regime. But if they all had been, it wouldn't have made any difference unless international law is determined by the people in the target regime, which it can't be. They don't get a vote.

I sat with some Iranians in Isfahan, with a family I was staying with. They were secular and they served me booze with one of their cousins who was there visiting. She wasn't wearing a full burkha, but a veil. She said the least during our discussion, but at the end she said the most eloquent thing, and she was obviously very tortured about it. She said, "Do you think the Americans could come just for a couple of weeks, remove the regime, and then go?"

And I said, "Oh, darling." Well, actually I didn't say that to her. [Laughs.] I said, "If only." If she could have her wish, she would have it both ways. She didn't want the Americans in her country, but she did want the regime taken away, as if on a magic carpet. I couldn't tell her I could help. It's the same with your block neighbors in Copenhagen.

LaFreniere: If we told them we were just going to do a regime-change and leave, they might have been fine with it.

Hitchens: Which is it they feel most strongly about? Their patriotism, or their allegiance to the regime?

MJT: This is almost like a philosophical bull session in college. It's not going to happen. It's just not.

Here's the real question: What would be your advice to the Israelis? They might actually do something. We won't.

Hitchens: It comes to the same thing.

MJT: If Netanyahu asked you personally for advice, would you give him the same answer that you'd give Obama?

Hitchens: In terms of the repercussions, it doesn’t matter. The United States will be accused of doing the work of the Jews no matter what.

MJT: And vice-versa. All the same negatives apply in each case.

Hitchens: The Israelis blew up the Iraqi reactor, and thank God they did.

MJT: Yes, no kidding.

Hitchens: They overflew Jordan for about ten minutes. The Turks aren't going to let them use their air space. They'll have to overfly Iraq. Everyone will know.

There was a great moment in Doctor Zhivago. They get the news that the czar has been killed, and all his family. One character says it was such a cruel deed, and Zhivago says, "It's to show there is no going back."

Destroy the Revolutionary Guard and some people will complain forever that it was a terrible intervention in Iranian internal affairs…

MJT: …but the Iranian Revolutionary Guard would be gone.

Hitchens: It's not as bad as having them running Iran and its nuclear program and stoning women and blinding girls. They rape boys in jail.

We can simply say, "We're not going to stay. We're handing the country over to you. We're not occupying. We don't want to stay. We can't wait to get out. And you've been de-Revolutionary-Guardized. Cry all you want."

We will have done them a favor, and ourselves. We have rights, too. The international community has rights. The U.N. has rights. The U.S. has rights. The IAEA has rights. The Iranians made deals with all of them, and they broke them.

MJT: You supported Bush to some extent, and you also support Obama to some extent.

Hitchens: Yes. I think Obama is tougher than he looks, by the way.

MJT: You should be able to compare their foreign policies honestly, without being a partisan hack. I know it's a bit early—you've got eight years of Bush policies to compare with one year of Obama's—but let's hear it. What do you think?

Hitchens: There's something everyone has forgotten, and Obama has never tried to remind them. He doesn't get credit because he's never asked for it. Do you remember when the American crew was taken by the pirates off the coast of Somalia? It's the same country of origin of the axe-wielding maniac who just tried to murder Kurt Westergaard in Denmark.

Someone went to the Oval Office and said, "Mr. President, you have three choices. We can have a standoff with the Somali government, we can negotiate with the pirates, or you can order the Navy SEALs to fire four shots."

I wouldn't like to be a newly elected president and have that dumped on my desk. He must have said, however long it took him, "Use the SEALs."

But that's not what impresses me. The point I'm making is not the one you thought I was going to make. What impresses me is that he didn't give a speech later about it. If Reagan had done that, everyone would remember it. There would be hubris. "They can run, but they can't hide."

I like his nature. Those who need to know, know. We don't have to make a big fucking circus out of it.

MJT: Well, let me ask you this: If you're a terrorist hiding in Afghanistan or wherever, who would you be more afraid of? Bush or Obama? Who do you think would be more likely to get you?

Hitchens: I think it would be a mistake to assume you'd be safer with Obama.

MJT: Obama doesn't exactly look like Mr. Tough Guy to me. He isn't as much of a weenie as some conservatives think he is, but I remember when you said one thing you liked about Bush was you just knew that when he woke up in the morning he asked himself what he could to fight Islamist terrorists today. Obama doesn't do that. You know he doesn't. He really wishes the problem would just go away.

Hitchens: I don't think he wishes that. Did you read the Nobel speech?

MJT: Yes, I was impressed with it.

Hitchens: I thought it was pretty good.

MJT: I thought it was great.

Hitchens: It was very solid and thorough.

MJT: I was surprised he said that to that crowd.

Hitchens: I think he's someone whom it's a mistake to underestimate. I think he wants it to be made clear that he tried everything, that they pushed him to this. That's what we're doing with Iran now. We let them walk over us, spit on us, and laugh at us, but this can't go on forever.

Even with the Major Hasan thing—which I thought was terrible—when he said, "Let's not rush to judgment." That wasn't only itself an awful thing to say. I wish he'd said that about the Cambridge Police Department.

MJT: He did rush to judgment against the Cambridge Police Department, and he made himself look like an ass.

Hitchens: It wasn't a presidential question at all. You know what happened, by the way?

MJT: Of course, although I don't know exactly what you're thinking of at the moment.

Hitchens: Charles Ogletree, a great lawyer in that hood, is a friend of Skip's. And he said, "Don't you worry, I'll call the First Lady." He did, and she got him to say something rather dumb.

He should have said, "I'm the president of the United States, and this isn't even a local event." I'll bet he won't do that again, though. He's learning.

It comes better from someone who has tried everything.

MJT: I agree. It does.

Hitchens: It's not that he wishes it would all go away. He thinks, still, that a lot of international disagreements are not the product of objective reality, but the result of misunderstandings.

MJT: I think it is the result of misunderstanding in a small number of cases. I've talked to lots of Lebanese, for instance, who support Hezbollah because they truly believe Israel is going to attack them no matter what and that Hezbollah is their only defense. They don't understand that Hezbollah is a magnet for Israeli invasions rather than a deterrent. They really don't get it.

Hezbollah's leadership doesn't have this problem, however. They know damn well what they're doing. When they say they're going to "liberate Jerusalem," they know what that means, and it is not based on any misunderstandings.

Hitchens: Look at the Cairo speech where he basically said, "If only we could all get along."

MJT: The Middle East doesn't work that way.

Hitchens: No. Nor does anywhere else.

LaFreniere: Can I ask a question?

MJT: Yeah.

LaFreniere: Right now I'm reading The Great Game by Peter Hopkirk, about British and Russian competition for Iran and Afghanistan. It was recommended to me by the resident diplomat at U.C. Berkeley when I expressed interest in the foreign service.

Hitchens: He also wrote a great book called Like Hidden Fire about the Ottoman Empire staking itself on an alliance with Germany against Britain. They called it the last real holy war to get the Muslims of India to rebel. But they didn't. They didn't just lose the jihad, they lost the war and their empire.

MJT: Did the Ottomans actually call it jihad?

Hitchens: That's what they called it. It was announced in Constantinople by the caliphate that every Muslim in the world must fight against the British Empire. It was one of the biggest historical flops that has ever been. At least when the pope said you had to go on a crusade, he made you. The caliphate said every Muslim must now rise against the British, but they didn't.

We are both too much afraid of these people, and too little. They overstate their strength. At the airports we treat them as though they are everywhere, yet we don't realize what a deadly thing it could be and sometimes is. All the proportions are wrong. They threw Joan Rivers off a plane because her passport didn't look right.

MJT: She was trying to fly from Costa Rica to New Jersey.

Hitchens: "No, ma'am. You can't do it." That's a pity. That was the Costa Ricans doing it.

MJT: It was Continental Airlines staff. It wasn't the TSA, but it was an American company.

LaFreniere: Here's what I wanted to ask: Russia was removed from the scene…

Hitchens: …semi-removed…

LaFreniere: …and there's the possibility that it will come back. It seems the game is played very differently when we have a clear adversary. When the two sides are clearly delineated as they were during the Cold War and the Great Game, the local players don't seem to matter as much. The great powers are playing their game, and the locals are just subjects. Today, now that one of the great powers has been removed, the former subjects are now "the game," so to speak. If Russia gets back in…

Hitchens: Imagine if India had been colonized by the Russians. Call me chauvinistic if you will, but I think India would be better under British rule. That's what Karl Marx said. He said, don't imagine that India will not be colonized. It would be invaded by either Iran, Russia, or Britain.

MJT: Well, you know what Karl Marx thought of Russia.

Hitchens: He hated Russia. He loved America.

MJT: How counterintuitive that is if you don't know it.

Hitchens: Karl Marx's best writing is on America. He said it was the great new country for worker's equality. There was free land for the peasants. It was republican, not monarchical, and it was anti-imperialist. If you look at Henry Adams' memoirs, when his father was at the embassy in London, the Times of London was in favor of the Confederacy. Gladstone helped the Confederacy build a navy. Karl Marx, meanwhile, said Lincoln is our man. The United States is our future. That's not what they teach you in school about Marx.

MJT: That's not what the communists taught their kids, either.

Hitchens: Well, that's true to an extent.

MJT: I mean the schools in the Soviet Union.

Hitchens: For Marxists, Russia was the heart of darkness.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A paulistização da televisão brasileira e a "apresentadora-celebridade"

Nos dias em que há chuvas torrenciais na cidade de São Paulo, todos os brasileiros precisam acompanhar nos noticiários "nacionais", com tempo privilegiado e análises compenetradíssimas, os engarrafamentos nas principais avenidas da pauliceia desvairada, submetendo-se a ver cenas como o carro do motorista de táxi que ficou parcialmente submerso na marginal tal e qual ou a senhora na avenida x ou y tentando, sem sucesso, atravessar para o outro lado da pista.

E se você é um dos 170 milhões de brasileiros que não mora na capital paulista, não adianta revoltar-se com o telejornal da emissora assistida naquele momento, pois todas as outras transmitem, concomitantes, a mesma odisseia, a mesma não-informação, a mesma arrogância paulistana.

O problema é que a produção televisiva brasileira resume-se hoje, pelo poder do capital, ao eixo São-Paulo-só-ela-e-mais-ninguém. É a política econômica do café-com-café. Insuportável.

A informação sobre o engarrafamento na marginal tal ou o alagamento do jardim qual não tem absolutamente nehuma importância para quem vive em Porto Alegre, Salvador, Brasília ou Manaus. Então por que as emissoras paulistanas não noticiam esses fatos "importantes" apenas em seu jornal local paulistano? Por que essa necessidade de impor à maioria do povo brasileiro essa baboseira de notícia sem nenhum valor geográfico além das marginais paulistanas alagadas?

E isso, é óbvio, não se limita ao telejornal geral. Basta ver a imposição esportiva a que todos somos submetidos nos mais variados programas de esportes. Nem falo dos canais por assinatura, pois esses deveriam ser "eSPn" ou "SPortv", pois afinal, é uma opção comprada. E compra quem quer. Refiro-me aos programas de TV aberta que se propõem (evidente que a Band é uma exceção gritante, pois até o sotaque dos comentaristas expõe seu paradigma, seu público-alvo, sua opção - é uma emissora paulista para paulistas, e só), ao menos teoricamente, a todos os brasileiros. Até aos 170 milhões que não se preocupam com os fatos exclusivamente paulistanos. E nesse período de campeonatos estaduais então, beira a demência absolutista.

Entretranto, gostaria de destacar o comentário infeliz, para dizer o mínimo, da apresentadora do telejornal Bom dia Brasil, da TV Globo no dia 21 de janeiro de 2010. Muito ciosa de seu depoimento pessoal, achando poder bem ilustrar a notícia "mui importante" de mais um alagamento paulistano, informou que ficara presa no engarrafamento e solicitara ao agente de trânsito a permissão de usar calçadas e meios outros para conseguir seguir seu caminho em direção à TV Globo, pois, afinal, era "apresentadora do jornal Bom dia São Paulo". Após ouvir aquilo, parei e fiquei a refletir:

"Claro, cara! Como você não percebeu isso antes? Afinal, ela é apresentadora do jornal global! Que importa se médicos ali também estão e precisam chegar rapidamente aos seus plantões? Ou técnicos de variadas especializações que precisam resolver problemas de algum equipamento parado, que emperra uma importante linha de produção? Ou um funcionário público qualquer que precisa despachar com urgência alguma pendência administrativa? Oras, eles não são apresentadores globais, coitados!"

Será que essa senhora se deu conta do ridículo de sua intervenção? Será que ela não se deu conta que expôs a todo o país, desnecessariamente, o ego desmesurado daqueles que se acham melhores porque são "celebridades"? Triste ainda mais foi saber que o agente de trânsito deixou-se convencer pelo discurso desse tipo de "celebridade" de fancaria. É o reflexo desse país insano, que faz de indivíduos sem nenhuma capacidade intelectual, como as personagens quixotescas dos mais variados programas dominicais de auditório ou dos intragáveis programas que acompanham o dia-a-dia de indivíduos reclusos, serem tratados como se fossem pessoas realmente importantes.

É a triste paulistização da televisão brasileira.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

EUA, França e Brasil disputam hegemonia no Haiti

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/01/100119_haiti_spiegel_tp.shtml

Enquanto os haitianos lutam por sobrevivência após o devastador terremoto da semana passada, os Estados Unidos, a França e o Brasil estão "brigando pela predominância" no país, diz um artigo publicado no sítio da revista alemã Der Spiegel.

O artigo, assinado pelo correspondente da revista em Londres, Carsten Volkery, diz que o governo haitiano acompanha esse desenrolar "desfalecido".

Como exemplo da disputa pela predominância no país, a revista cita a decisão do presidente haitiano, René Préval, de passar o controle do aeroporto de Porto Príncipe para os americanos, que causou uma "chiadeira internacional" e que levou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a dizer que os EUA praticamete "anexaram" o aeroporto.

França e Brasil protestaram formalmente em Washington, "porque aviões americanos receberam prioridade para pousar em Porto Príncipe enquanto aviões de organizações de ajuda eram desviados para a República Dominicana", segundo a revista.

O Spiegel diz que o Brasil, que lidera as forças da missão de paz no Haiti, "não pensa em abrir mão do controle sobre a ilha" e que, se depender da vontade do governo Lula, o projeto de reconstrução do Haiti "deve permanecer um projeto latino-americano".

A disputa diplomática em andamento "lembra ao passado político da ilha", diz a revista, "quando constantemente os oito milhões de haitianos se tornavam em um joguete de interesses internacionais".

Colônia

Por causa da situação precária no país e da fragilidade do governo, vários analistas ouvidos pelo artigo preveem que o país mais pobre das Américas pode voltar a se tornar uma "espécie de colônia".

"Desde 2004, a ilha é um protetorado da ONU", diz a revista, lembrando que as tropas de paz zelam pela ordem e segurança no país, treinam a polícia local e até organizam as eleições.

Henry Carey, especialista em Haiti da Georgia State University, diz no artigo que o mandato da ONU deverá ser estendido e que o país voltará a ser uma colônia, "dessa vez da ONU".

Para o analista, isso seria "positivo", se for mantida a recente tendência de estabilização econômica e política verificada no país.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

10 mitos – e 10 verdades – sobre o ateísmo

Sam Harris
Tradução: Alenônimo

Fonte: Ateus do Brasil

Várias pesquisas indicam que o termo “ateísmo” tornou-se tão estigmatizado nos EUA que ser ateu virou um total impedimento para uma carreira política (de um jeito que sendo negro, muçulmano ou homossexual não é). De acordo com uma pesquisa recente da revista Newsweek, apenas 37% dos americanos votariam num ateu qualificado para o cargo de presidente.

Ateus geralmente são tidos como intolerantes, imorais, deprimidos, cegos para a beleza da natureza e dogmaticamente fechados para a evidência do sobrenatural.

Até mesmo John Locke, um dos maiores patriarcas do Iluminismo, acreditava que o ateísmo “não deveria ser tolerado porque, ele disse, “as promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou santidade.

Isso foi a mais de 300 anos. Mas nos Estados Unidos hoje, pouca coisa parece ter mudado. Impressionantes 87% da população americana alegam “nunca duvidar” da existência de Deus; menos de 10% se identificam como ateus – e suas reputações parecem estar deteriorando.

Tendo em vista que sabemos que os ateus figuram entre as pessoas mais inteligentes e cientificamente alfabetizadas em qualquer sociedade, é importante derrubarmos os mitos que os impedem de participar mais ativamente do nosso discurso nacional.

1) Ateus acreditam que a vida não tem sentido.

Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam freqüentemente com a falta de sentido na vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna além da vida. Ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo. Ateus tendem a achar que este medo da insignificância é... bem... insignificante.

2) Ateus são responsáveis pelos maiores crimes da história da humanidade.

Pessoas de fé geralmente alegam que os crimes de Hitler, Stalin, Mao e Pol Pot foram produtos inevitáveis da descrença. O problema com o fascismo e o comunismo, entretanto, não é que eles eram críticos demais da religião; o problema é que eles era muito parecidos com religiões. Tais regimes eram dogmáticos ao extremo e geralmente originam cultos a personalidades que são indistinguíveis da adoração religiosa. Auschwitz, o gulag e os campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando humanos rejeitam os dogmas religiosos; são exemplos de dogmas políticos, raciais e nacionalistas andando à solta. Não houve nenhuma sociedade na história humana que tenha sofrido porque seu povo ficou racional demais.

3) Ateus são dogmáticos.

Judeus, cristãos e muçulmanos afirmam que suas escrituras eram tão prescientes das necessidades humanas que só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente uma pessoa que considerou esta afirmação, leu os livros e descobriu que ela é ridícula. Não é preciso ter fé ou ser dogmático para rejeitar crenças religiosas infundadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71) uma vez: “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu”.

4) Ateus acham que tudo no universo surgiu por acaso.

Ninguém sabe como ou por que o universo surgiu. Aliás, não está inteiramente claro se nós podemos falar coerentemente sobre o “começo” ou “criação” do universo, pois essas idéias invocam o conceito de tempo, e estamos falando sobre o surgimento do próprio espaço-tempo.

A noção de que os ateus acreditam que tudo tenha surgido por acaso é também usada como crítica à teoria da evolução darwiniana. Como Richard Dawkins explica em seu maravilhoso livro, Deus, um delírio, isto representa uma grande falta de entendimento da teoria evolutiva. Apesar de não sabermos precisamente como os processos químicos da Terra jovem originaram a biologia, sabemos que a diversidade e a complexidade que vemos no mundo vivo não é um produto do mero acaso. Evolução é a combinação de mutações aleatórias e da seleção natural. Darwin chegou ao termo “seleção natural” em analogia ao termo “seleção artificial” usadas por criadores de gado. Em ambos os casos, seleção demonstra um efeito altamente não-aleatório no desenvolvimento de quaisquer espécies.

5) Ateísmo não tem conexão com a ciência.

Apesar de ser possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus – alguns cientistas parecem conseguir isto –, não há dúvida alguma de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população americana como exemplo: A maioria das pesquisas mostra que cerca de 90% do público geral acreditam em um Deus pessoal; entretanto, 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam. Isto sugere que há poucos modos de pensamento menos apropriados para a fé religiosa do que a ciência.

6) Ateus são arrogantes.

Quando os cientistas não sabem alguma coisa – como por que o universo veio a existir ou como a primeira molécula auto-replicante se formou –, eles admitem. Na ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrado com freqüência em como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber de fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.

7) Ateus são fechados para a experiência espiritual.

Nada impede um ateu de experimentar o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor; ateus podem valorizar estas experiências e buscá-las regularmente. O que os ateus não tendem a fazer são afirmações injustificadas (e injustificáveis) sobre a natureza da realidade com base em tais experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor ao ler a Bíblia e rezar para Jesus. O que isso prova? Que certas disciplinas de atenção e códigos de conduta podem ter um efeito profundo na mente humana. Tais experiências provam que Jesus é o único salvador da humanidade? Nem mesmo remotamente – porque hindus, budistas, muçulmanos e até mesmo ateus vivenciam experiências similares regularmente.

Não há, na verdade, um único cristão na Terra que possa estar certo de que Jesus sequer usava uma barba, muito menos de que ele nasceu de uma virgem ou ressuscitou dos mortos. Este não é o tipo de alegação que experiências espirituais possam provar.

8) Ateus acreditam que não há nada além da vida e do conhecimento humano.

Ateus são livres para admitir os limites do conhecimento humano de uma maneira que nem os religiosos podem. É óbvio que nós não entendemos completamente o universo; mas é ainda mais óbvio que nem a Bíblia e nem o Corão demonstram o melhor conhecimento dele. Nós não sabemos se há vida complexa em algum outro lugar do cosmos, mas pode haver. E, se há, tais seres podem ter desenvolvido um conhecimento das leis naturais que vastamente excede o nosso. Ateus podem livremente imaginar tais possibilidades. Eles também podem admitir que se extraterrestres brilhantes existirem, o conteúdo da Bíblia e do Corão lhes será menos impressionante do que são para os humanos ateus.

Do ponto de vista ateu, as religiões do mundo banalizam completamente a real beleza e imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.

9) Ateus ignoram o fato de que as religiões são extremamente benéficas para a sociedade.

Aqueles que enfatizam os bons efeitos da religião nunca parecem perceber que tais efeitos falham em demonstrar a verdade de qualquer doutrina religiosa. É por isso que temos termos como “wishful thinking” e “autoenganação”. Há uma profunda diferença entre uma ilusão consoladora e a verdade.

De qualquer maneira, os bons efeitos da religião podem ser certamente questionados. Na maioria das vezes, parece que as religiões dão péssimos motivos para se agir bem, quando temos bons motivos atualmente disponíveis. Pergunte a si mesmo: o que é mais moral? Ajudar os pobres por se preocupar com seus sofrimentos, ou ajudá-los porque acha que o criador do universo quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?

10) Ateísmo não fornece nenhuma base para a moralidade.

Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Corão – já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais que são (até certo ponto) embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.

Nós fizemos um progresso moral considerável ao longo dos anos, e não fizemos esse progresso lendo a Bíblia ou o Corão mais atentamente. Ambos os livros aceitam a prática de escravidão – e ainda assim seres humanos civilizados agora reconhecem que escravidão é uma abominação. Tudo que há de bom nas escrituras – como a regra de ouro, por exemplo – pode ser apreciado por seu valor ético, sem a crença de que isso nos tenha sido transmitido pelo criador do universo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

O maior espetáculo da Terra

Daniel Lopes

Fonte: Blog Index
Dizer que o novo livro de Richard Dawkins é uma resposta aos criacionistas é diminuí-lo. Seria como afirmar que O mundo assombrado pelos demônios (1996), do Sagan, é uma mera resposta àqueles que acreditam em abdução em massa ou em aparições da Virgem Maria.

Não estou certo de que os criacionistas mereçam uma resposta. O que eles merecem, sempre, é uma simples pergunta - “Qual a sua alternativa?” -, para diversão geral da nação. É claro que The greatest show on Earth: The evidence for Evolution se ocupa em desmontar argumentos criacionistas - o que na maioria dos casos equivale a ensinar o bê-a-bá da biologia e rudimentos de geologia, física e química -, mas o principal do livro é o encanto que ele causa no leitor, a cada página. E olha que consigo me impressionar com esse livro (não acabei ainda) imediatamente após encerrar os belos ensaios de A Devil’s Chaplain: Reflections on hope, lies, science and love (2003)!

O que Dawkins faz é nos maravilhar com os encantos da evolução das espécies no silêncio dos milhões de anos; nos mostrar nosso grau de parentesco com todos os seres vivos do planeta; descrever pesquisas que comprovam o fato da evolução e de alterações significativas numa espécie e o surgimento de outras, mesmo dentro do tempo de vida médio de uma pessoa (como as pesquisas de John Endler com peixes que “calculam” a relação custo-benefício entre se camuflar demais e não ser predado, e se destacar de menos e não atrair fêmeas, e que, a partir dos “resultados” e do meio em que estão, dão origem a novos tipos de peixes), mesmo em laboratório (caso do estudo de Richard Lenski e equipe com a evolução bacteriana - clique aqui e leia a respeito).

Um livro para fechar com classe este Ano de Darwin. E que felicidade da Cia. das Letras traduzi-lo e publicá-lo com grande rapidez no Brasil - O maior espetáculo da Terra.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O ateísmo como militância social

Mário Maestri

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, 09/01/2010.
http://espacoacademico.wordpress.com/2010/01/09/o-ateismo-como-militancia-social/

Dentro do respeito às crenças individuais dos homens e das mulheres de bem, a militância ateísta é dever social inarredável, para todos os que se mobilizam pela redenção da humanidade da alienação social, material e espiritual que a submerge crescentemente neste início de milênio, ameaçando a sua própria existência. Por mais subjetiva, introspectiva e sublimada que se apresente, a crença religiosa, jamais nasce, se realiza e se esgota no indivíduo. Ela é fenômeno parido no mundo social, que influencia essencialmente a ação individual e coletiva.

Em forma mais ou menos radical, mais ou menos plena, mais ou menos consciente, a crença religiosa dissocia-se da objetividade material e social. Ela desqualifica o doloroso esforço histórico que permitiu ao ser humano superar sua origem animal e, percebendo a si e à natureza, começar a conhecer as leis imanentes ao mundo, na difícil, necessária e inconclusa luta pela harmonização da existência social.

A crença religiosa nega as crescentes conquistas da racionalidade, da objetividade, da materialidade, da historicidade, encobrindo-as com as espessas sombras da irracionalidade, da subjetividade, do espiritualismo. Desequilibra a difícil luta do ser humano para erguer-se sobre as pernas e moldar o mundo com as mãos, forçando-o a ajoelhar-se novamente, apequenado, temeroso, embasbacado diante do “desconhecido”, sob o peso de alienação socialmente alimentada.

A crença religiosa droga o ser social com suas ilusões infantis de redenção conquistada através da obediência incondicional a estranho super-pai que, em muitas das mais importantes tradições espiritualistas, apesar de onisciente, onipotente e onipresente, e, assim, capaz de tudo dar aos filhos, lançou-os – no singular e no plural – em desnecessária desassistência, miséria e tristeza.

É porque é!

A essência anti-científica da religião, que não argumenta, pois se nutre da crença incondicional no arbitrário, materializa-se na oposição visceral, mais ou menos realizada, ao maior tesouro humano, a capacidade de diálogo e de compreensão tendencial do universo. Que o digam Galileu e Giordano Bruno! Daí sua histórica intolerância, desconfiança e ojeriza para com o pensamento científico. E, verdadeiro tiro no pé, seu constante e paradoxal esforço para afirmar que a ciência seja uma crença a mais.

O pensamento religioso nega e aborta o ativismo e o otimismo racionalistas e materialistas, nascidos da possibilidade de compreensão, domínio e transformação do mundo social e material. Impõe visão pessimista, quietista, introspectiva e infantil do universo, essencialmente petrificado e eternizado pela materialização de transcendência, à qual o homem deve apenas submeter-se e render-se, para merecer a liberação.

Para tais visões, o ativismo e otimismo social são incongruências, ao não haver imperfeição social superável, já que esta última nasce da própria natureza humana, habitada pelo mal e pelo pecado, devido ao desrespeito a interdições primordiais do pai eterno – olha aí ele de novo –, origem do pecado. Pecado que exige incessante expiação e penitência, lançando o ser religioso em triste e mórbido mundo de culpa, de submissão, de punição.

Ativismo e otimismo sociais impensáveis para uma forma de compreender a sociedade em que não há história. Ou o que compreendemos como história se mostra ininteligível, pois regida essencialmente por determinações transcendentais paridas e concluídas à margem das práticas humanas. Realidade à qual, segundo tal visão, podemos ascender, muito limitadamente, apenas através da revelação.

Quando deus mata o homem

Na sua petrificação a-social e a-histórica, um mundo chato, triste, deprimente, infantil, mórbido. Um universo que valoriza a paciência, a submissão, o imobilismo, o quietismo, a humildade, a transcendência, a espiritualidade, etc., valores e comportamentos historicamente explorados pelos opressores, no esforço de manter o mundo imóvel, através de alienação e submissão dos oprimidos, nesta vida, é claro, pois na outra, se sentarão à direita de deus-pai.

O ateísmo militante é necessário ao retrocesso da alienação, enormemente crescente em tempos de vitória da contra-revolução neoliberal. Ele impõe-se na luta por um mundo mais rico, mais pleno, mais livre, mais fraterno, em que o homem seja o amigo, não o lobo do homem. É imprescindível ao esforço de superação da miséria, da tristeza e da dor, materiais e espirituais, nos limites férreos da natureza humana historicamente determinada.

O ateísmo militante é democrático, pois tem como essencial meio de pregação a conscientização, individual e coletiva, da necessidade de assentar as práticas sociais nos valores da humanidade, da racionalidade, da liberdade, da solidariedade, da igualdade. Pregação racionalista e materialista que compreende que a superação da alienação espiritual será materializada plenamente apenas através da superação da alienação social e material.

O que exige intransigente luta política, cultural e ideológica pela defesa dos maltratados valores do laicismo, única base possível para convivência social mínima por sobre crenças religiosas, étnicas, ideológicas, etc. singulares. Laicismo agredido pela despudorada exploração mercantil, política e social, direta ou indireta, por parte das religiões novas e antigas, da crescente anomia popular contemporânea. O monopólio público da educação e da grande mídia televisiva e radiofônica, sob controle democrático, e a ilegalização do escorcho religioso popular direto são pontos programáticos dessa mobilização.

O Céu e o Inferno

O ateísmo militante é pregação de adultos, conscientes do limite e dos perigos de empreitada subversiva, dessacralizadora e mobilizadora, pois voltada para a necessidade do homem de retomar as rédeas de sua vida material e espiritual, no aqui e no agora. É jornada sem esperanças de premiações e de graças, na outra vida e sobretudo nessa, ao contrário do habitual nas religiões oferecidas como vias expressas para o sucesso individual, no rentável balcão da exploração da alienação.

O racionalismo militante é caminho difícil que premia os que nele perseveram com a experiência, mesmo fugidia, com o que há de melhor nos seres humanos, a racionalidade, a solidariedade, a fraternidade. Sentimentos e práticas vividos em forma direta, sem tabelas, pois a única ponte que liga os homens são as lançadas entre os próprios homens, construídos pela história à imagem e semelhança dos homens.

A vida racional é aventura recompensada sobretudo pelo inebriante desvelamento do encoberto pela ignorância e irracionalidade e pelo equilíbrio obtido na procura da harmonia social, por mais difícil e limitada que seja. Trata-se de caminho que permite, sem sonhar nem crer, seguir decifrando, alegre e desvairadamente, esse mundo crescentemente encantado e terrível. Viagem por esta vida terrena, valiosa, breve e única, sempre apoiada na lembrança de que, diante das penas e tristezas, não se há de se rir ou chorar, mas sobretudo entender, para poder transformar.

Uma experiência de vida que, mesmo bordejando não raro o inferno, ou sendo elevado fugidamente aos reinos dos céus, sabe-se que tudo se passa e se conclui nesse mundo, concreto, terrivelmente triste e belo, sobre o qual somos plena, total, sem desculpas e irremediavelmente responsáveis.
Powered By Blogger