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sábado, 25 de julho de 2009

Não existe fé raciocinada mas, mesmo assim, Rivail estava correto

Antônio Margarido

Fonte:
http://avessodoavesso.zip.net/

Postagem dedicada ao amigo Antônio Margarido.

O título é provocativo. Sabemos que ao filósofo espiritualista Hippolyte Léon
Denizard Rivail (1804-1869), mais conhecido como Allan Kardec, combatia a fé
cega – devendo ser raciocinada. Com isso chamava a atenção para sermos sempre
racionais em todos os assuntos. Radicalmente racionais. Isso diferenciaria, na
concepção de Rivail, o conceito espírita daquele próprio da religião cristã,
seja em sua vertente católica ou protestante, e também do espiritualismo em
geral. Afirmamos, no entanto, não existir a fé raciocinada. E mesmo assim Rivail
tinha razão. Como isso é possível?

Fé raciocinada: contradição em termos

Por que não existe fé raciocionada? Fé raciocinada é uma contradição em termos.
Há contradição numa expressão quando seus termos exprimem ou referem-se a idéias
incompatíveis. Fé e razão são termos incompatíveis, referindo-se a realidades,
situações totalmente diferentes, onde uma nega a outra.

O termos fé tem origem na palavra latina fides que significa fidelidade.
Fidelidade, por sua vez, é tanto a adequação mais perfeita possível a um modelo
como o compromisso com aqueles que defendem e adotam esse modelo. Diz-se fiel
aquele que incorpora de corpo e alma o modelo. Vale dizer: todos os pensamentos,
palavras e atos da pessoa estão em consonância absoluta com o modelo, expressam
o modelo.

A fé pressupõe portanto conjunto de crenças assumidas incondicionalmente em
termos subjetivos e objetivos pelo adepto. Essas crenças independem de qualquer
evidência na realidade, seja material, seja espiritual. Por esse motivos seus
conteúdos expressam-se de forma dogmática, colocando-se como verdades absolutas
e inquestionáveis.

Essa dogmática é estabelecida por um grupo de especialistas (sacerdotes,
teólogos, etc), que se impõem junto à multidão de fiéis como autoridades,
vinculados a alguma instituição. Assim a dogmática é posta e imposta de forma
inquestionável, mantida através dos pensamentos, palavras e obras dos fiéis. Com
isso se estabelece a ortodoxia em conjunto com a ortopraxia, vale dizer: um
sistema de pensamento correto e inquestionável (ortodoxia) e um conjunto de
práticas igualmente corretas e inquestionáveis (ortopraxia). Em síntese: a fé
não admite questionamento.

A razão, desde os pré-socráticos entre os gregos até os dias atuais tem como
ponto essencial ser reflexiva, através de contínuo e infindável questionamento.
Diante da razão a ortodoxia e a ortopraxia não resistem como também a fé e o
dogma. Tudo é objeto de reflexão e questionamento.

São duas visões de mundo contraditórias: aquela do homem de fé e aquela do homem
racional. Para o primeiro a dúvida não existe: existem somente certezas; para o
segundo somente a dúvida existe: não existe certeza. Não há como alguém ser ao
mesmo tempo homem de fé e questionador, reflexivo.

Razão e crença

A razão não nega, porém, a crença. Qualquer questionamento parte de conjunto de
crenças adotadas provisoriamente, dentro de determinado contexto. A crença
racional não é dogmática pois não se impõe como verdade absoluta mas tão somente
como verdade relativa dadas certas circunstâncias, dado certo contexto.

A análise racional chega sempre a resultados provisórios, enquanto a análise
tendo como pressuposto a fé é sempre absoluta, definitiva. Enquanto a razão
apóia-se em dados da realidade objetiva, em evidências e também em deduções
lógicas, a fé nega a realidade objetiva se contraria seus pressupostos tidos
como absolutamente verdadeiros.

Como é sempre reflexivo o comportamento racional é o mais compatível com o
livre-arbítrio, possibilitando liberdade de pesquisa e de reflexão. Dado a
impossibilidade dos dogmas serem questionados e a exigência de adequação
absoluta ao modelo, o comportamento fiel nega o livre-arbítrio, impossibilitando
ou limitando a pesquisa e a reflexão.

A crença racional é aberta, sempre passível de questionamento, sempre passiva de
ser verificada pelos fatos da realidade objetiva, sempre aferível pelos os
outros e livremente compartilhada. A crença fiel é fechada, não sendo passível
de ser questionada e nem de ser verificada, contrariando os fatos da realidade
objetiva e sendo impossível de ser verificada pelos outros e livremente
compartilhada.

Impossibilidade da fé raciocinada: a crença racional

Dadas essas conclusões compreende-se porque é impossível a fé raciocinada: por
uma impossibilidade lógica, por serem expressões contraditórias em si mesmas e,
por isso, colocando-se como contradição em termos. Pode-se falar, no entanto, em
crença racional e isso tanto no campo científico como no propriamente filosófico
e mesmo religioso.

A religião racional seria aquela que não nega a razão e, por isso, está sempre
em consonância com seus postulados. Assim coloca-se sempre como passível de
verificação pelos fatos tanto no campo material, como no campo espiritual, mesmo
admitindo conclusões dedutivas – esta qualificadas de teorias como, ademais, faz
a própria ciência. Colocar as verdades como não absolutas seja em relação aos
fatos, seja em relação ao quadro teórico em sim mesmo também relativo, isso
tornaria a religião racional não dogmática e contrária a toda ortodoxia e
ortopraxia. Em síntese: a religião racional não admite a ortodoxia e a
ortopraxia.

Entendendo-se dessa forma podemos verificar existir um sistema de crenças tanto
para os cientistas como também para os propriamente religiosos – sem que os
primeiros se oponham aos segundos e vice-versa. Pois a ciência não pode impor
sua visão de mundo como absoluta. Se isso ocorresse, deixaria de ser racional.

Três possibilidades de compreensão: racional, irracional e arracional

Há três possibilidades de compreensão do mundo: racional, irracional e
arracional. A razão apóia-se em dados objetivos e subjetivos, sendo sempre
aberta a questionamentos e verificação. Isso ocorre dentro do quadro de
referências que dizemos irracional: aquilo que ainda não conhecemos e é passível
de ser conhecido em termos racionais, dizemos irracional.

Assim há contínua correlação entre o racional e o irracional, onde podemos dizer
que o racional faz parte de nossa consciência do mundo enquanto o irracional faz
parte de nossa inconsciência do mundo, ou de nosso inconsciente. O quadro de
referências racional está sempre se alimentando do quadro de referências
irracional, aumentando o os limites de nossa consciência da realidade que, em si
mesma, é racional/irracional, conhecida/desconhecida, consciente/inconsciente.

A investigação do racional/irracional não nega o livro arbítrio: ao contrário, o
livre arbítrio é imprescindível para ocorrer a expansão da consciência,
decorrente da pesquisa racional/irracional. E esse tipo de investigação é
assentado em evidências e, por isso, expressa-se sempre como teoria provisória.
Se determinada evidência demonstrar a teoria falsa, abandona-se a teoria. Não
existe verdade absoluta e definitiva para a investigação racional/irracional.

O arracional não pressupõe nenhum outro quadro de referências a não ser o seu
próprio: a arracionalidade é, com isso, autorreferente. É assentada, como
dissemos, na autoridade (sacerdotes, teólogos, etc), na instituição, na
ortodoxia e na ortopraxia. Não admite questionamentos e nega qualquer evidência
que possa contrariar aquilo que a autoridade afirma como verdade. Com isso, nega
o livre arbítrio e coloca suas doutrinas sempre como absolutas e definitivas.

A fé é arracional: impossibilidade da fé racional

Expressamos acima o modo racional contrapondo aquele próprio da fé – concluindo
não ser esta última racional. Na medida em que a fé nega os dados objetivos ela
nega também a razão e a irrazão. A fé não é, portanto, nem racional e nem
irracional: a fé é arracional, nega a razão e a irrazão. A compreensão do mundo
própria da fé tem como pressuposto corrigir aquilo que a razão nos diz ser
verdadeiro e correto, adptando-se à sua ortodoxia e ortopraxia, absolutamente
certas e corretas.

O sistema de crenças da fé é assim arracional. Dada essa constatação,
verificamos ser impossível uma fé raciocinada, pois ou a razão destrói a fé ou a
fé destrói a razão. Não há como misturar água e óleo. Por esse motivo não existe
fé raciocinada como apregoava o filósofo espiritualista Hippolyte Léon Denizard
Rivail.

Rivail estava errado mas também estava certo

Mas a crença é racional/irracional, sendo comum à ciência como também à
religião. Dado a religião, nesses termos, ter sempre existido desde os
primórdios do homem neste planeta. As crenças dos antigos xamãs eram
essencialmente racionais/irracionais, frutos sempre da experiência tanto com os
fenômenos objetivos como subjetivos. Da modo também ocorreu em outras religiões
existentes, como no budismo, no hinduísmo e mesmo no judaísmo, no cristianismo e
no islamismo.

A religião torna-se arracional na tradição cristã quando passou a ter a
hegemonia da teologia católica. Não se pode dizer ser isso próprio de todo
cristianismo e nem de todos os teólogos. A ortodoxia católica, fundamentada
teologicamente, catalogou de heresia todo o sistema de crenças racional e
irracional surgido no cristianismo e com isso estabeleceu círculo de ferro entre
ortodoxia e ortopraxia.

A reflexão que ora fazemos muito embora demonstre a impossibilidade da fé
raciocinada, aponta a existência da religião racional/irracional e, com isso,
tornando-se possível a aliança do conhecimento religioso com o conhecimento
científico. Toda a crença, seja religiosa ou científica, é em si mesma
racional/irracional e, assim, é essencialmente reflexiva tanto em relação aos
fenômenos objetivos como subjetivos. Assim a necessidade da crença racional é
fundamental e, nesse ponto, Rivail estava correto.

Este texto reflete os conhecimentos acumulados posteriormente às formulações de
Rivail, no final do século XIX até os dias atuais. Estamos em condições, dado o
quadro teórico atual, de afirmar existirem crenças tanto na ciência como na
religião, expressando-se de forma racional e irracional em ambos os campos do
conhecimento.

Assim concluímos ser toda crença racional enquanto está assimilada pela nossa
consciência e irracional, quando nos é ainda desconhecida, pertencendo ao
inconsciente – não sendo o campo do inconsciente impossível de ser verificado
também pela razão e, com isso, trazido ao nosso consciente. A crença expressa
nestes termos é comum tanto à ciência como à religião.

Existe, porém, e é dado da realidade, a religião arracional, como explicitamos
acima. Para esta não se trata de compreender, assimilar e assimilar-se à
realidade, mas de mudar a realidade segundo seus postulados indiscutíveis, seus
dogmas, adequando-a à sua ortodoxia e sua ortopraxia. Esta religião abre caminho
a todo tipo de fundamentalismo, um dos males principais dos tempos atuais.

O fundamentalismo religioso é o mais evidente pois se vincula à autoridade
temporal, impondo-se sobre a humanidade através de sucessivas matanças de seres
humanos discordantes de sua ortodoxia e ortopraxia. Mas há também o
fundamentalismo científico, cuja principal pregação é negar qualquer
possibilidade à religião, afirmando apenas a ciência como verdadeira. Assim
pregam o fim da religião de forma unilateral, estabelecem verdadeira guerra
contra a religião.

Os cientistas adeptos desse fundamentalismo são ateus e materialistas, negando
qualquer possibilidade da existência de Deus e do plano espiritual. Com isso
estabelecem também um tipo de ortodoxia e ortopraxia, tem seus sacerdotes e
cientólogos (contrapostos aos teólogos). As mentes mais abertas entre os
cientistas, como Albert Einstein ou Stephen Hawking, não são fundamentalistas
científicos. E estes são os responsáveis pelo avanço científico. Enquanto os
fundamentalistas científicos dão aos mãos aos fundamentalistas religiosos e a
guerra que entre si estabelecem, contribue somente para o aumento da miséria e
das opressão entre os homens, fomentando os contínuos banhos de sangue que
assolam os diferentes povos pelo mundo, decorrente da atuação de suas ortodoxias
e ortopraxias.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Israel cometeu crimes em ação 'sem precedentes' em Gaza, diz Anistia

BBC Brasil, em 2 de julho de 2009.

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/

Um relatório da Anistia Internacional afirma que Israel cometeu crimes de guerra e promoveu uma destruição indiscriminada sem precedentes durante sua ofensiva militar na Faixa de Gaza no começo de 2009.

O relatório de 117 páginas afirma que centenas de civis palestinos foram mortos através do uso de armas de alta precisão e que outros foram mortos com tiros à queima-roupa "sendo que não representavam ameaça à vida de soldados israelenses".

A Anistia Internacional também acusa Israel de usar armas de baixa precisão, como artilharia e fósforo branco, em áreas densamente povoadas.

O documento também acusa o grupo palestino Hamas de cometer crimes de guerra, citando os ataques com foguetes lançados contra zonas residenciais em Israel.

A Anistia afirma que cerca de 1,4 mil palestinos foram mortos na ofensiva de 22 dias realizada por Israel entre 27 de dezembro de 2008 e 17 de janeiro de 2009, números que batem com as estatísticas divulgadas por palestinos.

Entre os mortos, mais de 900 eram civis, incluindo 300 crianças e 115 mulheres, de acordo com o relatório.

Em março, os militares israelenses afirmaram que, no total, o número de palestinos mortos foi de 1.116 pessoas, destas apenas 295 eram civis.

Em relação à ação militar israelense, a pesquisadora da Anistia e responsável pelo relatório Donatella Rovera, afirmou que houve três grandes violações das leis internacionais.

"Ataques indiscriminados diretos ou indiretos contra civis e alvos civis. Várias centenas de civis foram mortos como resultado destes ataques."

"Houve demolição e destruição de casas e de prédios civis em grande escala, e a destruição não poderia ser justificada como uma necessidade militar", afirmou.

"E as equipes médicas também foram impedidas de retirar os feridos além de ataques a algumas equipes médicas em ambulâncias. Tudo isto é violação das leis internacionais e constitui crimes de guerra", acrescentou.

'Erros profissionais'

Israelenses e palestinos rejeitaram o relatório da Anistia Internacional.

Israel atribuiu algumas das mortes de civis a "erros profissionais" e acrescentou que sua conduta seguiu as leis internacionais.

Autoridades israelenses afirmaram que seus militares atingiram apenas áreas nas quais os militantes palestinos operavam e acusaram o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, de transformar bairros civis em "zonas de guerra".

"Tentamos ser tão precisos quanto podíamos em uma situação de combate difícil", disse à BBC o porta-voz do governo israelense Mark Regev.

Yigal Palmor, porta-voz do Ministério do Exterior israelense, questionou a credibilidade do relatório da Anistia.

"Este relatório da Anistia não é um relatório sobre direitos humanos, é um julgamento ao estilo soviético. Não há transparência, não há responsabilidade, não sabemos quem são os juízes. Quem são os membros da equipe de investigação? Eles escondem suas identidades", afirmou.

Palmor também questionou os conhecimentos da equipe de investigação da Anistia, a identidade das testemunhas e se elas trabalham para o Hamas.

Disparos de escolas

O relatório da Anistia afirma que não encontrou provas de que militantes palestinos obrigaram civis a ficarem em prédios usados para fins militares, contradizendo as alegações israelenses de que o Hamas usava "escudos humanos.

No entanto, a Anistia afirma que o Hamas e outros grupos militantes palestinos colocaram a vida de civis em risco ao disparar foguetes de áreas residenciais e guardar armas nestes bairros. O relatório afirma que moradores destas áreas contaram que militantes do Hamas dispararam um foguete do pátio de uma escola do governo.

Treze israelenses foram mortos, incluindo três civis, durante a ofensiva. Israel alegava que a operação visava paralisar os ataques com foguetes contra alvos israelenses, através da fronteira.

Na Faixa de Gaza, Fawzi Barhoum, um porta-voz do Hamas, afirmou que o relatório não é profissional.

"Este relatório não é justo nem equilibrado e nós rejeitamos todas as acusações ao Hamas listadas nele. Lembramos e reafirmamos que este relatório não profissional foi publicado sem a consulta a qualquer um dos líderes ou autoridades do Hamas. O relatório iguala vítimas e carrascos e nega o direito de nosso povo de resistir à ocupação, que é incompatível com a lei internacional que garante o direito de um povo (em território) ocupado à autodefesa."

Um dos líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, disse que "esta guerra selvagem teve apenas um lado e todas as ferramentas de destruição e assassinato foram usadas. Os restos da destruição ainda são provas do crime contra a Faixa de Gaza e acreditamos que os líderes da ocupação israelense devem ser entregues aos tribunais internacionais".
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